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Quanto tempo posso deixar a presa no recinto da minha serpente?!

Recebemos uma dúvida intrigante de um seguidor esta semana, que, apesar de inicialmente parecer simples, revelou-se bastante complexa!

O seguidor compartilhou conosco um incidente envolvendo sua sandboa de estimação. Após descongelar um camundongo, ofereceu a presa abatida em um comedouro no início da tarde. No entanto, o animal não a ingeriu imediatamente e permaneceu no terrário até as 21 horas. Entre 21 e 21:30, ao verificarem o comedouro, descobriram que a sandboa havia consumido a presa. Surgiu então a dúvida: seria prejudicial para o animal ingerir uma presa que estava no recinto por cerca de 8 horas?

Inicialmente, essa questão parecia simples. No entanto, ao considerar o contexto e os processos biológicos envolvidos, tornou-se evidente sua complexidade. A quantidade de variáveis em jogo impede uma resposta simples e objetiva para a pergunta do seguidor.

Kingsnake negritus com sua presa

E qual a grande preocupação com relação a essa presa que ficou algumas horas em temperatura ambiente? Basicamente, qualquer produto orgânico, como uma presa, quando exposto a condições ambientais e biológicas favoráveis à proliferação de microrganismos, pode acabar se deteriorando. Esse processo de deterioração pode levar a dois problemas principais para um animal: intoxicação ou infecção alimentar.

Na intoxicação alimentar, os microrganismos presentes na presa são capazes de produzir substâncias tóxicas que podem afetar o animal, causando uma série de sinais clínicos, especialmente problemas gastrointestinais. Já na infecção alimentar, os microrganismos presentes na presa contaminam o animal quando ingeridos, instalando-se no trato gastrointestinal e causando uma infecção.

Ao refletir sobre a situação do seguidor e buscar uma resposta, nos deparamos com uma série de variáveis que podem influenciar diretamente na resposta desejada. O tamanho da presa, o tempo que ela permaneceu congelada após o abate, o método de descongelamento, a temperatura do recinto e a exposição da presa são alguns fatores a considerar. Além disso, detalhes como o tempo que a serpente levou para ingerir a presa e a dieta prévia do roedor antes do abate também são relevantes.

Presa detrioriando

Entendo que possa parecer excessivo levantar tantas perguntas para responder a uma única questão, mas acredite em mim, todas essas variáveis são cruciais para fornecer uma resposta eficaz e útil para o manejo adequado de sua serpente de estimação. Nesse contexto, acredito que a melhor abordagem seja explicar como cada um desses pontos pode influenciar e apresentar riscos no processo de descongelamento e manejo alimentar da sua serpente de estimação.

Tamanho da presa

O tamanho da presa é um fator crucial a ser considerado. Presas menores possuem uma proporção de superfície corporal maior em relação ao seu volume, o que as torna mais suscetíveis à troca de temperatura com o ambiente. Assim, uma presa menor tende a aquecer mais rapidamente e, consequentemente, sofrer os efeitos prejudiciais do aquecimento de forma mais acelerada.

Por exemplo, um neonato de camundongo, devido ao seu tamanho reduzido, pode entrar em estado de deterioração avançada em poucas horas quando exposto a temperaturas inadequadas, o que pode representar um risco para as serpentes de estimação. Por outro lado, um rato adulto de 200 gramas, devido ao seu maior tamanho, tem um processo de aquecimento mais gradual, o que permite que ele permaneça fora da geladeira por um período mais prolongado antes de apresentar efeitos prejudiciais decorrentes da temperatura.

Temperatura do ambiente

E nesse contexto, chegamos a um segundo ponto crucial: o aquecimento da presa e a manutenção em uma temperatura que favorece a proliferação de microorganismos. Em ambientes mais quentes, há uma tendência geral de que a qualidade da presa seja comprometida de maneira mais rápida. Por exemplo, se mantivermos um camundongo fora da geladeira em Curitiba, onde a temperatura ambiente é de 10°C, ele se deteriora mais lentamente do que no Rio de Janeiro, onde a temperatura média é de 32°C. Isso ocorre porque os microrganismos tendem a se multiplicar mais rapidamente em temperaturas mais altas, acelerando o processo de deterioração da presa.

No entanto, é importante ressaltar que estamos nos referindo à temperatura à qual a presa está exposta. Mesmo em Curitiba, com uma temperatura ambiente de 10°C, se o recinto for mantido em uma temperatura mais elevada devido ao manejo térmico, a presa estará exposta a uma temperatura mais alta. Portanto, devemos considerar a temperatura à qual a presa está submetida, e não necessariamente a temperatura da cidade onde você reside.

Outros fatores

Além do tamanho da presa e da temperatura ambiente, há outras variáveis que podem influenciar no processo de deterioração, incluindo o tipo de alimento que o roedor estava consumindo antes de ser abatido. Esse perfil alimentar da presa pode afetar o tipo de microrganismos presentes em seu trato gastrointestinal. É importante ressaltar que uma presa completa contém não apenas os músculos, mas também a pele, pelos ou penas, e todos os demais órgãos do animal, incluindo o trato gastrointestinal, que está repleto de microrganismos.

São esses microrganismos que vão se replicar e acelerar a deterioração da presa muito mais rapidamente do que ocorreria com um corte de carne, por exemplo. No entanto, não temos controle sobre a dieta anterior do animal nem sobre o perfil de bactérias em seu trato gastrointestinal. Portanto, é fundamental entender que uma presa completa não deve ser mantida descongelada por um período prolongado, nem mesmo próximo ao tempo de uma carne destinada ao consumo humano.

Outro fator a ser considerado é o método de descongelamento da presa. Se o descongelamento foi feito de maneira lenta, na geladeira, é provável que a replicação dos microrganismos tenha sido relativamente baixa desde o início do descongelamento até o momento da oferta. No entanto, se a presa foi deixada fora do congelador em temperatura ambiente por um longo período antes de ser oferecida ao animal, é provável que os microrganismos já estejam se replicando no momento da oferta. Isso aumenta a probabilidade de que a presa se deteriore ainda mais rapidamente após a oferta, devido à proliferação de microrganismos que ocorreu antes mesmo de o alimento ser consumido pelo animal.

Sandboa ingerindo a presa

Afinal, quanto tempo a presa pode ficar descongelada?!

A relação entre o tamanho da presa e a temperatura ambiente e todos os demais fatores associados será crucial para determinar por quanto tempo a presa pode ser deixada disponível para o animal sem que ela comece a deteriorar. Presas menores tendem a se deteriorar mais rapidamente, e temperaturas mais elevadas têm o efeito de acelerar esse processo. Isso não só favorece a proliferação de microorganismos, mas também pode resultar na perda de alguns nutrientes. No entanto, é praticamente impossível estabelecer um tempo específico para esse processo dada a complexidade das variáveis envolvidas.

Como pode ser observado, uma ampla gama de fatores impede a fornecimento de uma resposta numérica precisa para nossa questão. De fato, seria praticamente impossível fazer isso de maneira técnica, objetiva e responsável, especialmente considerando a complexidade das variáveis envolvidas. O tempo necessário para a deterioração do alimento irá variar consideravelmente dependendo de todos os diversos fatores explicados anteriormente.

Então, o que podemos fazer para mitigar os riscos de fornecer um alimento deteriorado para nossa serpente de estimação? É crucial seguir práticas de manejo nutricional adequadas, adotando estratégias que minimizem a possibilidade de deterioração durante cada etapa do processo.

Vamos listar os CINCO PONTOS MAIS IMPORTANTES para evitar a deterioração das presas!

O primeiro passo é adquirir esses alimentos de um fornecedor de confiança que garanta um processo de criação, abate e congelamento rápido e adequado dessas presas.

O segundo ponto é essencial armazenar esses alimentos de maneira correta, geralmente mantendo-os congelados a -4°C (freezer), evitando variações abruptas de temperatura e eventos congelamentos e descongelamentos desnecessários.

Um terceiro ponto crucial é seguir um protocolo de descongelamento apropriado. Recomenda-se o descongelamento lento, transferindo a presa do freezer para a geladeira e, posteriormente, da geladeira para a temperatura ambiente até o completo descongelamento. Assim que a presa estiver descongelada, deve-se oferecer o alimento ao animal o mais rápido possível.

O quarto ponto é importante oferecer o alimento durante o período fisiológico de atividade da espécie. Por exemplo, se o animal é noturno, o alimento deve ser oferecido à noite, enquanto se for diurno, durante o dia. Isso aumenta a probabilidade de que o animal detecte e consuma o alimento rapidamente.

Por fim, o quinto passo fundamental é acompanhar o processo de alimentação. Se possível, pode-se utilizar uma câmera para monitorar, ou pelo menos oferecer o alimento e verificar se foi consumido em intervalos regulares. Por exemplo, é uma prática comum oferecer a presa às serpentes tarde da noite, por exemplo à meia-noite, e verificar se foi consumida até as 6:00 da manhã do dia seguinte. Se não for consumida, é recomendado retirar e descartar o alimento não consumido, considerando o tempo decorrido desde a oferta inicial.

E aí, você segue essas recomendações?! E já utiliza o aplicativo da Meu Exótico pra deixar a rotina de alimentação da sua serpente ainda mais simples?! É 100% gratuito! Só baixar!

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